Antes da faculdade a Pequena Sereia existiu
12 de outubro de 2010
Não quis fazer promessas de ano novo quando 2019 deu as caras. Não dessa vez. As expectativas de mais um ano na faculdade e realizações, basicamente não existiam, ou melhor, estavam me sufocando e eu decidi ignorar. Ligar para nada parecia a melhor opção. Eu iria explodir de resolvesse pensar em TCC, novo quarto, pressão de conseguir algum emprego após esse longo período de um ano – que resolveria passar como em três meses. Corre, corre. Entrega de projeto escrito, “vocês têm que pensar em alguma pauta se querem ser jornalistas”, “precisam ter o máximo de contatos possíveis”, precisam e precisam.
Preciso de férias eternas sem a ansiedade provocada pelo medo de estar mendigando o pão mais tarde. Agora, nesse momento, estou em um avião retornando para casa. Um enjoo acertou o meu estômago e temo passar mal como ocorreu a uma semana atrás, após ingerir muita comida gordurosa. Um protesto do meu corpo assim como agora, o de voltar para realidade. Talvez seja por isso que me acomodei e fiquei na minha zona de conforto: para não sentir a abstinência pós-aventura. A abstinência pós-romance, a abstinência pós-leitura, a abstinência pós-graduação. O que fazer depois, além de seguir em frente e dar uma pseudo-esquecida para uma viciada não sofrer?
Temos vícios secretos e os não tão secretos assim. E quem liga? Se fôssemos famosos, as revistas de fofocas correriam atrás dessas informações e as tornariam mais chocantes do que realmente são, apenas pelo dever de vender algo. O ideal estaria em uma linha tênue entre isso e aquilo. Entre o compromisso da venda e o conteúdo útil e de serviço social para uma sociedade mais justa. “Ah, tentativa contínua de esperança, continue em nossas vidas, pois é a única razão boa que nos restou!” Quando a luta pelo melhor acabar, o que será de nós? Seremos nós ou eu? Já não somos “eus” disfarçados de “nós” há muito tempo?
Não sou a única que pausou a vida nos ares – durante um voo – para ver de forma horizontal, a verticalidade da própria vida. O “tornar-se” avoado nada tem a ver com as tantas viagens que você fez, ostentando o status por mero status. É um estilo de vida. Muito diferente de moda. Muito diferente de estilo de vida por moda. É só viver mesmo. E pensar. De vez em quando.
12 de outubro de 2010
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