Avoada

Era 17 de janeiro. Descobriu-se viciada

Não quis fazer promessas de ano novo quando 2019 deu as caras. Não dessa vez. As expectativas de mais um ano na faculdade e realizações, basicamente não existiam, ou melhor, estavam me sufocando e eu decidi ignorar. Ligar para nada parecia a melhor opção. Eu iria explodir de resolvesse pensar em TCC, novo quarto, pressão de conseguir algum emprego após esse longo período de um ano – que resolveria passar como em três meses. Corre, corre. Entrega de projeto escrito, “vocês têm que pensar em alguma pauta se querem ser jornalistas”, “precisam ter o máximo de contatos possíveis”, precisam e precisam.

Preciso de férias eternas sem a ansiedade provocada pelo medo de estar mendigando o pão mais tarde. Agora, nesse momento, estou em um avião retornando para casa. Um enjoo acertou o meu estômago e temo passar mal como ocorreu a uma semana atrás, após ingerir muita comida gordurosa. Um protesto do meu corpo assim como agora, o de voltar para realidade. Talvez seja por isso que me acomodei e fiquei na minha zona de conforto: para não sentir a abstinência pós-aventura. A abstinência pós-romance, a abstinência pós-leitura, a abstinência pós-graduação. O que fazer depois, além de seguir em frente e dar uma pseudo-esquecida para uma viciada não sofrer?

“eus”

Temos vícios secretos e os não tão secretos assim. E quem liga? Se fôssemos famosos, as revistas de fofocas correriam atrás dessas informações e as tornariam mais chocantes do que realmente são, apenas pelo dever de vender algo. O ideal estaria em uma linha tênue entre isso e aquilo. Entre o compromisso da venda e o conteúdo útil e de serviço social para uma sociedade mais justa. “Ah, tentativa contínua de esperança, continue em nossas vidas, pois é a única razão boa que nos restou!” Quando a luta pelo melhor acabar, o que será de nós? Seremos nós ou eu? Já não somos “eus” disfarçados de “nós” há muito tempo?

Não sou a única que pausou a vida nos ares – durante um voo – para ver de forma horizontal, a verticalidade da própria vida. O “tornar-se” avoado nada tem a ver com as tantas viagens que você fez, ostentando o status por mero status. É um estilo de vida. Muito diferente de moda. Muito diferente de estilo de vida por moda. É só viver mesmo. E pensar. De vez em quando.

 

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