Compre minhas palavras AQUI no mercado sombrio

Tá na promoção!

Eu não sei mais escrever. Quanto lamentaria a professora Marilu! Me alfabetizar não serviu de nada. Encaro uma folha de papel e ela naturalmente se enruga para mim. “Quem mandou escrever sobre futilidades a vida toda? Ninguém jamais te ouvirá!”

Folha de papel maldita! Nunca mais conversou comigo. Acho que se cansou das lamúrias sobre os ex-amores nunca correspondidos. Eles me alimentavam tão bem…. Agora que estão mortos, quem irá me inspirar? Quando foi que as palavras tiveram que fazer sentido para serem compreendidas por outrem?

Ah! Foi a faculdade que me convenceu disso. Comunicar, informar, ser útil com as palavras . Simples, coeso, robótico e mesmo assim, humano. “Tenho que ser impecável, perfeita… NÃO NÃO NÃO! Maldição! Quando foi que parei de escrever para mim? Quando foi que virei analfabeta? Por que os outros precisam me entender se não me compreendo? Isso é comunicar? Comunicar o que? Repassar informações?

“Transforme seu hobby em seu “ganha pão” e comece a detestar as regras. Só assim seu hobby morrerá na essência e venderá muito bem.”

 

O mercado tem dito: PROPAGANDA, PROPAGANDA! A gente nasce para vender – caso nosso sonho seja sobreviver. “Venda uma notícia, venda um produto digital, venda uma ideia! Não foi efetivo? Se venda! Convença!” Tenho visto tanta sujeira nas palavras escritas. Não me refiro aos resíduos da borracha no papel, mas ao que o “comunicar” tem se tornado durante esses tempos. Os mundo opostos estão se fundindo. Alguns com a necessidade de se alfabetizar digitalmente e outros disputando quão sábios estão sobre o digital. Porque pra comer é preciso se reinventar e um bom texto, vende. Texto digitado, texto proferido, texto interpretado. “Transforme seu hobby em seu “ganha pão” e comece a detestar as regras. Só assim seu hobby morrerá na essência e venderá muito bem.”

Sabe, eu jurava que escrever era o processo mais sincero que poderia existir como derramamento da alma. Entretanto, se ele não chegar até você, caro leitor, ele é inútil – como diz a regra -, de nada servirá.

Não será por isso que me tornarei analfabeta! Não brigarei com o papel por exigir de mim a mesma astúcia de um bom vendedor. Morrerei de fome? Morrerei.

Vender minhas palavras não será minha única opção.

Me alimento do que vier.

 

 

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