Nós e nossos nós (tentando ser laços)

Estamos sendo amarrados com fitas como presentes de Natal. E adivinhe? Precisamos disso.

Todo mundo quer falar de laços, de quantos têm, quantas diferenças possuem e etc e etc. Laços, laços e mais laços. Nesse clima de festas, onde se tem laços por todas as partes – presentes, roupas, decoração – se tem a bela evidência do que já estamos acostumados a falar. “Está vendo quantos laços posso ter?”, “Veja como eles estão bem atados à mim!”.

Legal. Me conte uma novidade.

Os holofotes estão nesses preciosos laços. Das fitas em si, preferem nem comentar. Muito menos querem falar dessas fitas emboladas e seus nós complicados de desfazer. “Essa é a parte chata. Imagina quão estressante é ficar desfazendo essas amarrações tão sem beleza pomposa”.

Vamos falar de laços, é claro.

O bonito precisa ser mostrado. Os lacinhos não deixam as coisas mais meigas? Para fazer um laço no cadarço, vamos seguir os passos: passe o coelho por dentro da toca e está feita mais uma obra de arte.

Imagino você embrulhando os presentes na véspera de Natal e escolhendo fitas que combinem com o papel de embrulho e enlaçando-o de forma artística para que seja realçada a beleza daquele pacote que será entregue a uma pessoa especial. A um laço seu. Alguém bem importante mesmo. “Você é muito importante para mim e enchi esse presente de laços para que possa parecer mais belo, como é belo meu carinho por você”. Blá, blá, blá… Isso tudo a gente já cansou de saber. Na verdade não cansou. Gostamos.

Entretanto, as fitas não se resumem aos laços e exposições de sua grandeza. As fitas somos nós. Criativas, diferentes, essenciais e úteis. Cada uma com sua cor e suas características quase que únicas, almejando o dia em que serão só laços bonitos bem feitos e nunca querendo ser nós “sem criatividade”.

Mas quando falo de “laço” não me refiro diretamente à sua literalidade. A essa altura, caro leitor, você deve estar entre os seguintes extremos: pensando nas fitas que guardou em algum lugar da casa ou tentando encontrar a mensagem subliminar deste texto, buscando referências em Bauman, por exemplo.

Claro que é importante falar sobre a fragilidade dos laços humanos, mas não é meu foco nesse momento. Os laços são tão almejados… Queremos muitos amigos e gostamos de expor isso, gostamos de exibir nossa família sempre feliz e completa, curtimos expressar nossa satisfação em ter relações interpessoais de forma quantitativa e qualitativa. Nos orgulhamos de nossos laços.

Somos como fitas se enlaçando com outras fitas. Ou fitas se embolando e se amarrando com outras fitas. Um emaranhado. Os nós somos nós. E precisamos falar sobre eles.

O nó é bem mais prático e mais simples. Facilita as coisas, sabe? Mas existem nós e nós. Nós complexos, daqueles que se embolaram por acaso – como os fones de ouvido, por exemplo -, existem sim. E por mais que tentemos ser laços na maior parte do tempo, tão lindos socialmente, acabamos sendo nós na maioria das vezes.

Nos envolvemos constantemente em todos os tipos de relacionamentos. Queremos expô-los como laços por mais nós que eles sejam. Mas os nós podem ser bonitos também. Quando reunida a família nas comemorações de fim de ano, juntando os laços e nós dos presentes debaixo da árvore natalina, com os laços e nós das relações com cada um ali presente, temos um emaranhado. Não rejeitemos os nós.

Quem disse que seria fácil fazer o laço perfeito? Se é que ele existe. O perfeito. Mas laços podem se desfazer facilmente, sabe? Uma pequena puxada na fita, e ele se esvai. Nisso, os nós são preferíveis. Bem atados, resistentes à tormentas e não se desfazendo simplesmente mesmo com sua simplicidade.

Sabe, não venho aqui para defender qual é o melhor. Muito menos com alguma militância pró laço ou vice versa. Vim falar que é possível ser os dois. Para os cadarços, fazemos um meio nó para fixar melhor o laço. Para que ele dure…

Por mais que os emaranhados representem os conflitos quase inevitáveis de nossos relacionamentos, não podemos tentam desfazer os nós. Eles nos mantêm firmes. Ligando as fitas que nos unem aos nossos amados, chamados laços. E por gostarmos demasiadamente da beleza dos laços, esquecemos de sua importante duração.

Mas para solidez?

Primeiro os nós.

Depois, laços.

 

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