Sobrevivente desta selva

Seu destino é o limite.

Faróis. Na verdade, a luz da minha TV.

Chuva copiosa. Na real? Meu chuveiro ligado.

Som de pássaros. O que era? O toque do meu celular.

Uma casa iluminada entre bilhares de outras em um imenso amontoado de construções ao qual chamam de cidade.

O romantismo desse lugar está em sobrevoar seu céu noturno ao som de…

Sua grandiosidade vai além disso.

Seja bem-vindo à selva chamada Metrópole. (ou não)

“Se você está ouvindo os mesmos sons que eu, seu coração vai inflar. Um sabor de calmaria e apreensão. Um quase desespero e sentimento de fuga vão surgir e você vai olhar de cima uma terra repleta de pontilhadas luzes. Umas estáticas, outras não. Esse momento requer seu lado sensorial. Serão apenas 3 minutos. Logo tudo vai se intensificar.

Eu sou um desses pontinhos,  habitante desta selva com animais de estimação, tocas modernas, alimentos em vitrines, transeuntes mascarados, tribos de opiniões, o silêncio de um deserto surdo para ouvir pedidos de socorro.

Seu destino é o limite. Limite de tempo, limite de velocidade, limite de paciência, limite do cartão de crédito, limite de poluição, limite de energia para continuar vivendo no limite. Chega! O único limite que não há é o do “exceder”. Há um certo orgulho em viver no limite..

Mas… Note os contrastes. Não há calmaria. Não há. Ela escolheu ser interna. O contraste do desespero que há selva afora, nasceu dentro de mim. Eu resolvi acordar sem pensar no meu chefe e no pouco tempo que o dia parecia ter. Por um momento esqueci onde vivia.

Corri pelos quatro cantos da casa e fechei janelas, portas, vidros e trancas… Para me isolar do que me cercava. ‘Sou parte disso, não quero viver nisso’. A paz não veio nesse ato. Minha guerra era viver na selva e não ser selvagem.

Foi aí que notei que o ‘selvagerismo’ não vinha da selva em si mas de seus habitantes. Eu poderia me tornar uma selvagem do lucro, do consumo, do bando, da pressa, da louca ambição… Notei também que a selvageria era fruto da luta pela sobrevivência. E todos estavam lutando. A culpa não era da selva de pedra e nem dos que sobreviviam a ela. A culpa era minha.

A culpa era sua. A culpa era de todos nós. Cada um. Que esqueceu do que é maior que a selva.

Que esqueceu o que é viver.

Que esqueceu da VIDA e sua única oportunidade.

 

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